Saturday, November 25, 2006

Sobre o mimetismo

Imitar um poeta,
Quão fácil pode ser!
Nos dedos esconde traços
que em meu rosto podereis ver,
grossas linhas que a tristeza
a mim e ele, fez aparecer.

Imitar um poeta,
Quão fácil pode ser.
Cúmplices na sorte, padecemos
do mesmo estranho prazer.
Espelho e papel.
Planos.
Diante de nós,
é só o que podemos
e o que queremos ter.
Plena.
E nossa dor se faz aliteração
para que possamos dela esquecer.

Imitar um poeta,
Quão fácil pensei ser.
Em mais que rima pobre,
no entanto, pôde ele
transformar o seu sofrer.

Monday, November 20, 2006

Via Pública

Esse amor tímido.
Hei de exibi-lo,
E já nem me importa
que o faça assim
fruto corrompido.
Nas ruas do centro,
Esses folhetos.
Teu nome impresso,
Teu nome preso.
Melhor lugar não há
para guardar meu segredo.
Reciclável ao menos,
se não for eterno.
Fica aqui meu apelo.

Wednesday, November 15, 2006

2 Kb

Quero que saibas
Que te amo agora.
E mesmo depois
Da sessão do orkut
ser encerrada.
E o email,
Lido, fechado e excluído
Da caixa de entrada.

Saturday, November 11, 2006

SMS

Ah, o p... e o r, então!
Pra você talvez nem faça diferença.
Prato, problema, primo.
Substantivo comum, só.
E o que me deste é mais,
Um advérbio.
Que modifica o verbo.
Mau mania minha
de amar os clichês,
Livro de cartas de amor.
Isso desde sempre,
estampado nas gramáticas,
Velho engano.
O verbo é o que menos muda.
E essa sintaxe esconde de mim
tantos segredos, seus e meus.
Um i, um n e c.
E Sou a própria Vênus.

Mas logo tudo me escapa
Quase a Clarice,
no momento da epifania.
Loja de artigos chineses,
acrílico, R$ 6,99.

Um ponto poderia permanecer
ali, estanque.
Mas você me fez ver
qual os ratinhos do Flautista de Hamelin
ipalmente em fila.
Assim sem vígulas,
Assim sem ponto.
A tela é pequena
quase nem cabe mente.
Where is my mind?
Queria dizer agora
que aboli esses sinaizinhos
numa homenagem singela.
Mas o que posso fazer?
Abolir é defectivo
na primeira pessoa.

Quero escutar euteamo
com todas as letras que existem,
e todas que nunca existirão
no nosso alfabeto.
Quase o Pessoa, assim,
a soprar em meu ouvido,
que sou amada.
E que me repitas contínua
e enfadonhamente as conhecidas
403291461126605635584000000
combinações possíveis
até que se torne verdade.
Mas se seu editor de texto,
tiver aquele recurso
que um amigo me falou...
um auto-completar a destruir
promessas de amor eterno.
t9, me disse um outro agora.

Do papel de presente
etiqueta volte sempre
direto pra estante
ao lado de um cavalo de louça.

Mais de 500 caracteres desnecessários

Tormento e encanto me fazem
como a todo mundo.
Não sou diferente de ninguém.
Sou igual a cada um
que entre o café e a página policial
tenta transformar tudo isso
que meu coração parece sentir,
mas os olhos esquecem de ver.
É que os outdoors me entretêm tanto
e palavras cruzadas me entediam.
Paro. E no silêncio desse trânsito hibernal
fonemas bêbados, é só o que resta,
a ziguezaguear diante de mim.
Seis sílabas poéticas
não cabem mais aqui.
Quantos versos serão necessários,
para entender essa tolice?